Naomi Klein, jornalista conhecida por um livro que há uns anos teve uma visibilidade respeitável entre alunos de Design e de Sociologia clássica (No Logo: O Poder das Marcas), envolveu-se recentemente nos debates sobre alterações climáticas e preservação ambiental, o que a levou a escrever On Fire: The Burning Case for a Green New Deal. Klein percebe que é preciso exigir a mudança de atitude de quem nos governa e assume-o quando diz que “as pessoas que têm muito a perder tendem a ter mais medo de mudanças, enquanto que as que têm muito a ganhar tendem a lutar mais por elas. Esse é o grande benefício de ter uma abordagem à crise do clima que a ligue às questões mais vitais para as pessoas: como é que vamos conseguir empregos mais bem remunerados, habitação a preços acessíveis?” A resposta será complexa, sem dúvida, mas numa primeira abordagem seria crucial compreender que individualmente temos um papel ativo na sobrevivência do mundo que habitamos.
Klein, no entanto, parece dedicada a outras prioridades, como demonstra ao afirmar que “em termos do carbono, as decisões individuais que tomamos não têm qualquer efeito face à escala da mudança de que precisamos. A verdade é que temos sido treinados para pensar em pequena escala.” A afirmação ecoa as preocupações de muitas pessoas que intervêm nestas discussões e segundo as quais as ações individuais não têm impacto na luta contra as alterações climáticas. Deixar de usar palhinhas ou escolher escovas de bambu em detrimento das de plástico, por exemplo, não reduz efetivamente o desperdício e defender estas medidas, insistem, é pura demagogia.
Mas quem defende isto não pode, conscientemente, afirmar o mesmo sobre uma empresa: os atos individuais em ambiente laboral contam efetivamente. É certo que a escala não é idêntica, mas, mesmo numa empresa de grandes dimensões, não terá um funcionário relevância para a viabilidade e sustentabilidade? Se não tem, não faz sentido que lá continue a trabalhar; se lá trabalha, com certeza que participa não só na laboração, mas também na construção da identidade particular da empresa.
Em princípio, aprendemos todos que ações têm consequências, previsíveis ou não, e que devemos assumir responsabilidade por essas consequências (mesmo quando não as antevemos). Por isso, dificilmente ouviremos um empregador dizer a um funcionário que as suas ações não têm relevância. A prática demonstra, aliás, que em contexto laboral as pequenas ações contam para economizar, aumentar a produção ou melhorar o relacionamento entre pares. Tal acontece sobretudo porque as atitudes de uns influenciam as de outros e, numa empresa, como no mundo, é com os outros que aprendemos a viver. Como entender um colega que esbanja o papel que outros se esforçam por poupar? Sempre foi um bom princípio de convivência laboral seguir os bons exemplos.
Na mesma edição do jornal de onde se retiram as citações de Klein, na secção de ciência, atesta-se que nos Estados Unidos, entre o desaparecimento de milhões de aves das últimas décadas, há casos de conservação que foram um sucesso. Michael Parr, do Conservatório de Aves Americanas, afirma que “cada um de nós pode fazer a diferença no seu dia-a-dia através de ações que, em conjunto, podem salvar a vida de milhões de aves, como tornar as janelas mais seguras para as aves, manter os gatos dentro de casa e proteger os habitats.” O argumento de Parr é diametralmente oposto ao de Klein e da sua experiência na conservação retira que um conjunto de pequenas ações, quando replicadas, têm consequências significativas; o que está em causa não é se pequenas ações têm impacto efetivo, mas se conseguimos convencer as pessoas de que têm um papel ativo na forma como vivem e influenciam o mundo onde se movem.