Trabalhei durante dez anos numa agência de publicidade como account e copy. Os projectos iniciavam-se com o briefing, respondiam a budgets, direccionavam-se a um determinado target e guiavam-se por timings e deadlines. Um brainstorm dava, muitas vezes, o ponto de partida criativo.
Numa área onde as equipas são compostas por accounts, designers, marketeers, web developers, social media managers, content creators; onde se trabalha marketing e branding, se criam flyers, outdoors e websites, packaging e displays, newsletters e banners; onde termos como user experience, mobile friendly, responsive design, e-commerce, apps, web marketing, posts, hashtags, top of the mind, mindset, feedback e follow-up, skills, know-how e tantos, mas tantos outros, integram o vocabulário de todos os dias, torna-se cada vez mais difícil não incluir umas quantas palavras em inglês por cada frase em português.
Este exemplo é apenas um de muitos de todo o universo corporativo, onde as fronteiras entre idiomas se esbatem e os estrangeirismos, por conveniência ou falta de equivalente, são tão banais quanto o português.
Mas, e à semelhança de outras áreas ou até fora delas, a utilização de estrangeirismos pode tornar-se excessiva. Ir a um meeting de networking para fazer um upgrade à rede de contactos ou um workshop de team building para dar um improvement às soft skills pode não ser a forma mais criativa de nos expressarmos - mas será, com toda a certeza, a mais rápida para nos tornarmos, como diz S. Pedro, naquele “gajo chato com termos em inglês”.
E onde está a fronteira entre a moderação e a lei do menor esforço? Podemos nem todos estar preparados para substituir workshops por oficinas, summits por cimeiras, e coffee breaks por pausas para o café. Mas podemos mudar o deadline se um prazo faz o mesmo efeito; e se um budget for substituído por um orçamento, o montante será exactamente igual; e se em vez de comunicarmos para um target o fizermos para um público-alvo, estaremos a falar para as mesmas pessoas. Procurar um equivalente em português não é, muitas vezes, assim tão complicado.
E a fronteira entre a eficácia e aquela coisa da mania? Usar só para parecer brilhante pode não ser grande ideia. Todos já ouvimos frases com estrangeirismos lustrados a sotaque (que às vezes, pela força do emissor, se transformam em neologismos) completamente fora do contexto. E, nestas situações, ninguém sai a ganhar: nem quem transmite, nem quem recebe. É por isso que vale a pena voltar ao que é essencial: a comunicação só é eficaz se a mensagem do emissor chegar com sucesso ao receptor. Com ou sem estrangeirismos.